Remontando aos anos 90, o blogue começou por ser feito em linguagem html e poucos a usavam. Jorn Barger, autor de um desses blogues pioneiros, usou a expressão weblog em 1997 para definir esse estilo de produção e registo de conteúdos para a internet: página electrónica onde se registavam, entre outras coisas, todas as outras páginas do nosso interesse (Blogger, 2007; Skiba, 2005; Weblog, 2008). Mais tarde Peter Merholz sugeriu que se alterasse a expressão para we blog, o que acabou por originar o termo actual, blog, adaptado para português como blogue. Em 1999 os blogues já se distinguiam de outros periódicos electrónicos (ezines ou journals) quer pela forma quer pelo conteúdo: eram mais rudimentares, e, graças ao hipertexto, cruzavam e multiplicavam referências entre si criando uma rede de conteúdos e de interesses, alguns detractores e um público leitor cada vez maior.
Como muito do que caracteriza a Web 2.0, a popularidade dos blogues construiu-se numa lógica bottom-up a partir de contributos individuais. “[Os primeiros bloggers] trabalharam para se tornar fontes de links para material de qualidade, aprendendo a escrever concisamente, utilizando os elementos que induziam os leitores a visitar outros sites.” (Weblog, 2008) Foram contagiando visitantes que acabaram por se tornar interlocutores ou autores de blogues também. Daí ao surgimento de software que facilitasse a criação e actualização de blogues foi um passo curto. Em 1999 várias empresas lançaram programas com esse fim, nomeadamente a Pitas, a criadora do primeiro software para blogues no princípio desse ano (Clyde, 2002). Meses depois a Pyra Labs lançou um dos mais conhecidos softwares para a criação deste formato electrónico, o Blogger. O mérito da Pyra Labs foi ter automatizado a actualização dos conteúdos, a criação de hiperligações e o comentário aos conteúdos postados ou publicados. Mas acrescentou outras mais-valias que levaram muitos a aderir à sua tecnologia: a manutenção técnica da empresa que criava o software geria o alojamento dos blogues e fazia-o a custo zero. Sobretudo, o autor do blogue já não precisava dominar a linguagem html, podia editar o seu blogue directamente no site da Blogger (Blogger, 2007).
Em 2000, o Blogger voltou a inovar introduzindo o apontador ou ligação permanente (permalink), o que recuperava um pouco o espírito de uma página html típica da Web 1.0 e subvertia a lógica de diário online cronologicamente organizado. (Weblog, 2008) A vantagem era tornar esse apontador permanente numa espécie de portal de acesso aos conteúdos do blogue ou prolongar no tempo o destaque de certos conteúdos. Se pensarmos que muitas instituições passaram a usar o blogue como ferramenta de trabalho e que o blogue passou a ser um importante instrumento de marketing político isso pode fazer mais sentido (Blog, 2008).
Ao eliminarem o conhecimento tecnológico como pré-requisito e ao produzirem interfaces atractivas e gratuitas para a produção de blogues, empresas como a Pyra Labs promoveram a massificação desta ferramenta: qualquer pessoa podia escrever espontaneamente, actualizar a sua escrita e ter um público-alvo potencialmente maior do que noutro formato, e interagir com esse público. Em Março de 2004, 2 milhões de blogues formavam a blogosfera; um ano depois, a comunidade blogger tinha quadriplicado e ascendido a 8 milhões; em Março de 2006, 30 milhões formavam essa rede; em Março de 2007, havia mais de 70 milhões de blogues (Sifry, 2007); nove meses depois o número ultrapassava os 112 milhões (Blog, 2008). Actualmente, estima-se que sejam criados 175 mil blogues por dia e sejam feitas mais de 18 actualizações por segundo em toda a blogosfera (Technorati).
O blogue cresceu muito em função da usabilidade e acessibilidade dos seus interfaces, da versatilidade do hipertexto, da necessidade de organização personalizada de informação, e do estabelecimento de relações de interesse e conteúdo com outros blogues e recursos electrónicos.
Mas o hipertexto não chega para justificar o boom desta ferramenta. Na verdade, um dos segredos para o sucesso do blogue pode residir em ter acompanhado a evolução da Web 1.0 para a Web 2.0, os caprichos dos autores virtuais, as necessidades de comunicação e brainstorming de certas comunidades, as dinâmicas e as exigências audiovisuais dos grupos que os diferentes tipos de bloggers constituem. Outro dos seus segredos está no poder que confere a quem lê e produz blogues. O facto de se poder comentar um blogue pode transformar um passivo leitor num comentador, num participante. Pode levá-lo a (re)agir criando o seu próprio blogue. Pode até levá-lo a solicitar a colaboração e a co-autoria de outros e desenvolver uma dinâmica de parceria e trabalho colaborativo.
O blogue faz hoje parte daquilo a que chamamos software social, programas e aplicações que favorecem a comunicação entre pessoas e grupos ou instituições. As simples hiperligações deixaram de ser a principal vantagem técnica deste formato. Actualmente um blogue pode agregar outras ferramentas para incluir de som, imagens, animações ou filmes e para permitir a comunicação síncrona ou assíncrona. Isto torna-o mais versátil e interactivo.
Os interfaces de edição e publicação de blogues continuam a enriquecer as suas possibilidades de actualização, troca e organização de informação, projectando esta ferramenta para o futuro. É o que acontece com as tecnologias RSS (Real Simple Sindication) e com as tags, marcadores ou etiquetas. RSS feeds são formatos rápidos de publicação da informação. Permitem que um utilizador fique a par do que há de novo num dado sítio sem que tenha de perder tempo a reler ou revisitar o que já conhece, pois recebe apenas uma (síntese da) actualização (Karrer, 2007). Já as tags ou marcadores permitem atribuir uma categoria definida pelo utilizador a um bloco de informação, organizando-a e divulgando-a personalizadamente. Quanto mais blocos de informação forem atribuídos a essa categoria, mais destaque (visual) ela pode ter num blogue.
Tecnologias como RSS feeds e tags fazem com que o blogue caminhe a passos largos para a Web 3.0. Mais do que como uma teia de conteúdos dispostos acessíveis se pesquisáveis, a terceira geração da Internet, também chamada Web semântica, prefigura-se como uma imensa base de dados, estruturada semanticamente a partir dos focos de interesse previamente explicitados pelos seus utilizadores.
Sabendo que mais de 175 mil blogues são criados todos os dias, e considerando todas estas possibilidades tecnológicas, faz sentido perguntar como estão os blogues a ser usados actualmente. Começámos por defini-lo como uma espécie de diário virtual, mas nos últimos dez anos, a evolução tecnológica e os objectivos dos seus utilizadores foram transformando e reformulando esta tecnologia. Por isso encontramos variantes mais “visuais” do blogue, por exemplo, como o fotolog e o videolog, videoblog ou vlog, vocacionadas para o alojamento progressivo (actualizado e actualizável) e passível de ser comentado de fotografias e de vídeos, respectivamente (Videoblog, 2007).
Há quem defenda que um blogue não é mais do que uma página pessoal, mas há instituições (empresas, centros de investigação) que fazem do seu blogue um importante espaço de trabalho colaborativo. Dito isto, eis o actual estado da arte:
Many blogs provide commentary or news on a particular subject; others function
as more personal online diaries. A typical
blog combines text, images, and links to other blogs, web pages, and other media
related to its topic. The ability for readers to leave comments in an
interactive format is an important part of many blogs. Most blogs are primarily
textual, although some focus on art (artlog), photographs (photoblog), sketchblog, videos (vlog), music (MP3 blog), audio (podcasting) are part of a wider
network of social media. Micro-blogging is another
type of blogging which consists of blogs with very short posts. (Blog, 2008)
Do ponto de vista individual, um blogue pode ser criado para expressão pessoal, divulgação e partilha de conteúdos, manter contacto com família e amigos. Em termos comerciais, um blogue pode ser usado por particulares e empresas para fazer negócios: divulgando, promovendo e vendendo serviços, conteúdos, objectos e instituições. Socialmente, os blogues podem ser usados por particulares ou por grupos (de interesse) para reagir ao estado das coisas, construir opiniões ou ajudar outros (Blogging Startup, 2008). O blogue tem igualmente grande expressão como meio de comunicação social, sendo usado como versão electrónica de jornais e revistas e como complemento de estações de rádio e de televisão. E claro que também se tem usado o blogue na educação. É essa a vertente que mais nos interessa e será sobre o contributo que um blogue pode dar ao processo de ensino e aprendizagem que continuaremos a investigar.